terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008: Uma Odisséia Technicolor

No começo, era uma pequena esperança. Uma esperança microscópica, quase um começo de vida. Era fraca ainda, mas a cada passo dado nos dias de Janeiro, ela ganhava mais corpo e ímpeto. Já era quase audível, sonoridade de mandolins. Quando o mês se revirou sobre o outro, ela assustou-se e correu, o brilho correu pela estrada e dividiu a pequena esperança em quatro pedaços: Pequenas Vontades.

A sede tomou o lugar da pequena esperança. Era uma sede multicolorida. fantasiada pelo Carnaval e banhada a ouro e prata, tal como a vida. Era preciso ter a força de um halterofilista para suportar o peso desses dias coloridos. Coloridos sim, mas cores não significam necessariamente felicidade, vide Frida Kahlo e todo o seu sofrimento, repleto de cores. Um sofrimento irisdescente. Mas o pior inimigo dos dias, resolveu atacar, e arrastou Fevereiro como um tornado que limpa e fere tudo. O poderoso inimigo tempo.

"Há uma estrada pálida entre nós" - Era fim de Fevereiro, chegada de Março. A luz voltou, a pequena esperança atravessou o deserto de fuligem escura e caiu como um pássaro ferido, bem entre os meus braços. Que como uma santa poderosíssima, curei o moribundo da escuridão e devolvi aquilo que ele havia esquecido em seu espaço-sideral-particular: A luz.

Abriu Abril, como uma festa. Eram laços rosas espalhados pelo chão como se fosse um ninho de Pardais. Era música que atingia os decibéis do amor, da paz, de tudo aquilo que merece um Deus particular. Era nostalgia do minuto que acabara de passar; Era a comemoração de milhões de aniversários pelo mundo todo, que nos atingiam em cheio e mostravam a alegria de poder dizer: Still alive, Noch Lebendig, Aún con vida, Encore Vivant, Ancora Vivente, Ainda vivo.

"É seu aniversário! te desejo rosas, querubins e um oceano azul como chafariz!" - Era maio, que chegou com saudade. chegou tecendo fios invisíveis de destino, tramas de lã para cobrir o desespero de estar logo ao lado daquilo que chamamos de amor.

Junho e Julho chegaram juntos. De mãos dadas, enlaçados como um abraço. Era tudo que todos necessitavam, necessitam, necessitarão: um abraço.-"No último toque da trombeta do Apocalipse, morreremos abraçados. Eu conheço o caminho que leva até o paraíso nosso."

Agosto foi o mês do lusco-fusco. Estrelas mortas brilhavam no céu. Pequenas tochas que apontam caminhos abstratos, e é por isso que o horóscopo nunca dá uma verdade inteira? sempre aquelas verdades-metades. Verdades com corpo de laranja, de maçã, de uva, de todas as frutas que merecem um beijo. A verdade-metade suculenta que todos comemos.

Setembro bateu como uma moeda em algum chão, sonoridade metálica. A pequena esperança havia crescido, se tornado uma quase grande esperança. Uma quase certeza. Um esboço daquilo que chamamos de vida, de dias, de meses. Setembro doce, doce Setembro.

Outubro dividido ao meio. Norte e Sul. Duas metades da mesma coisa. Não é isso que chamamos de uma pessoa que nega o sim desejado para fortalecer o não emocionado de orgulho e flutuante de inércia? - "Eu quero tanto aquilo ali, aquilo ali brilhando no fundo. Parece um punhado de luz capturado por uma teia de aranha"

Em Novembro, uma bandeira estendeu-se. Uma bandeira de cores que, até hoje não sei os nomes. Cores de alguém que chega e te mostra aquilo que você procurou mostrar para alguém sua vida inteira. Alguém chega, mostra um sorriso brilhante de verdades e você se sente esvaziado do vazio e cheio daquela pequena esperança, que cresceu e tomou conta de todo o seu corpo, principalmente, a área dos olhos, que brilham como uma estrela morta.

"December will be magic again" - Uma explosão. Você olha para o céu de dentro e sente a supernova. Milhões de pequenos planetas que surgiram após a morte da estrela. Você olha para o céu de fora e diz, com afinco e lucidez:"A natureza se inspirou nas nuvens em sua formação - os quadros da terra baseado nos quadros do céu" - Um abraço envolveu seus dias e você sente a brilhante sensação de estar livre-e-preso por sua vida inteira. A memória não é um corpo físico, mas é mais que isso, é um corpo celeste, uma supernova de emoções que geram outras emoções e outras emoções e outras emoções e outras emoções(ad infinitum).


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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mudanças de comportamento


As grandes mudanças começam com as mudanças; As mudanças começam com as pequenas mudanças e, as pequenas mudanças começam com a mudança do olhar. Ter o mundo em foco é algo genuíno e lúdico. O mundo em foco é um quebra-cabeça montado, sem uma fácil introdução ao viver. Digo isso por mim, digo isso com veemência por mim e pelas pequenas mudanças que ocorrem em mim a cada mísero segundo. É como se meu comportamento fosse tão volátil quanto água de rio que evapora e vira chuva, vira gás, vira sei lá o que tiver que virar. Mas eu não viro nem chuva e nem gás, porque a verdade é que eu posso chover, eu posso ser nada, posso ser nuvens, um punhado de mar, uma pedra de gelo esquecida no congelador ou uma centelha que se desloca da brasa mãe.

Diante de todas as pequenas mudanças internas eu percebi que elas são como prisioneiras, elas não se mostram na utilidade que deveriam vestir, elas ficam presas a uma camada espessa de pele, e sequer um ordinário poro se abre para dar-lhes a salvação da prisão. Qualquer mudança interna só é válida se for concomitantemente externa. De que vale a mudança guardada para si? é o mesmo que guardar o amor para si, e se há algo que não se guarda nessa vida é o amor. Ele sim, sempre escapa pelos poros e transborda na lucidez. O amor é alma, a mudança é puro corpo. Mudança humana, demasiada humana, que se prende ao estético humano e não evolui e nem sofre involução, fica lá, estagnada dentro de você, te olhando com olhos esbugalhados, feito um animal acuado por sabe-se lá quem. Mudanças de comportamento: válidas somente se forem apreciados por alguém que não seja o olho do furação interno.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Dreaming isn´t enough

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A viagem nos ensina algumas coisas. Que a vida é o caminho e não o ponto fixo no espaço. Que nós somos feito a passagem dos dias e dos meses e dos anos, como escreveu o poeta japonês Matsuo Bashõ num diário de viagem, e aquilo que possuímos de fato, nosso único bem, é a capacidade de locomoção. É o talento para viajar.

Capacidade de locomoção.
Talento para viajar.






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sábado, 20 de dezembro de 2008

A leveza e o peso

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"Enquanto dançavam ela falou: - Tomas, em sua vida eu fui a culpada de todos os males. Foi por minha causa que você desceu tão baixo, mais baixo é impossível.

- Você está divagando - respondeu Tomas. - Em primeiro lugar, o que significa, tão baixo?

- Se tivéssemos ficado em Zurique, você estaria operando seus doentes.

- E você estaria fotografando.

- Não se pode comparar - disse Tereza. - Para você, o trabalho era a coisa mais importante do mundo, quanto a mim, poderia fazer qualquer coisa, não me importaria. Não perdi nada. Você perdeu tudo.

- Tereza - disse Tomas -, Você não notou que me sinto feliz aqui?

- Mas, sua missão era operar!

- Missão, tereza? Missão é uma palavra idiota. Eu não tenho missão. E é um alívio imenso perceber que somos livres, que não temos missão."

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

All this love


"Desabo em ti como um bando de pássaros"

sábado, 13 de dezembro de 2008

Respostas ao tempo..

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"Para mim, o presente é para sempre, e o eterno está sempre mudando, fluindo, se dissolvendo. Este segundo é vida. E quando passa, morre. Mas você não pode recomeçar a cada novo segundo. Tem de julgar a partir do que já está morto. Como areia movediça... invencível desde o início. Uma história, uma imagem, pode reviver algo da sensação mas não o bastante. Nada é real, exceto o presente, e mesmo assim já sinto o peso dos séculos a me esmagar. Uma moça, há cem anos, viveu como vivo. E ela está morta. Sou o presente, mas sei que também passarei. O movimento culminante, o relâmpago fulgurante, chega e some, contínua areia movediça. E eu não quero morrer."
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(Os Diários de Sylvia Plath, página 22. Escrito em 1950.)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

We Were Sparkling

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Uma sombra caiu obliquamente sobre eles, e foi tirada apenas quando um deles se levantou para colocar uma música, um soprano espanhol cantando "Cantaloube", sua melodia pura e agonizante flutuando, suas harmonias menores reverberando no pequeno quarto, como se para lembrá-los de que a beleza e a perda estavam inseparavelmente ligadas.

Os lábios do tempo beijaram novamente o rosto de um deles, como a mão de uma mãe reclamando o horário. Ele foi guiado até a porta por borrifos de vento e cinzas - o mosaico de imagens reduzido ao pó antigo do segundo de outrora. O outro caminhou como uma lesma até a janela, deixando rastros de musgo por onde passava, lembrando mais uma vez, o mofo do momento.

Sequer as estrelas fumegantes eram capazes de parar o que havia começado, um adeus químico e físico que se movia através do ar como um vaga-lume oscilante. O oxigênio rarefeito saltava dos poros como uma multidão de pequenos pedaços suicidas de pele, ambos se liquefaziam em um movimento eterno de composição, decomposição e recomposição.

O quarto se metamoforsiava em praia desértica, o que era antes um taco velho é agora um caminho de areia movediça ou não, porque a única verdade era, que tudo ali, dependia exclusivamente de ambos, cada movimento seria como um pequeno terremoto na estrutura onírica, podendo mudar-se assim, toda uma configuração pré-estabelecida de gestos anatômicos.

A verdade era que ambos estavam de costas e ambos estavam de frente, eles compreendiam mas não aceitavam que qualquer escolha excluiria a outra, que para cada sim dado ali, existiria um não sentenciado a eles. Na praia glauberiana e solitária, eles se olharam pela última, primeira ou qualquer outra vez. Aquele olhar encontrou um destino inexorável e eminente, o destino da perda de conexão, como se o fio metafísico que unia-os, era agora uma linha que unia a solidão e a espera.

Eles esvaeceram como uma névoa na noite coberta de júbilo, caminharam em direções opostas, quase esquecendo-se que caminham em algo esférico, algo sublime e concomitantemente simétrico e assimétrico. Quase esqueceram-se que vazio nenhum dura por muito tempo. Escolhas excluem, para cada sim, existe um não, mas, cada fim, é um prelúdio.
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( Felipe C. )

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Own Little World

Uma molécula disse sim a outra molécula e assim nasceu esse blog - não com toda essa pretensão de uma vida primária que surge em um planeta até então inexistente, mas com o mesmo desejo ambicioso de evolução.
Ninguém quer confissões aqui. Nem reminiscências. É apenas uma questão de manter o foco. Por isso esse formato, essa falsa elaboração. Se alguém quisesse ser realmente bom, contaria as sílabas de um soneto perfeito, mas não é o caso. Nem é o caso, aqui, em meio a toda essa confusão, ser ele, um homem prestes a chorar ou não. Não!
Taí uma coisa que não vai interessar você. Ninguém quer confissões aqui. É mesmo melhor continuar escrevendo essas frases curtas, que assim amontoadas, dão um ar de coisa, coisa pensada, e nem é, sabe?, nem é importante....Só um pouco importante, um pouquinho, Como se ele bebesse um copo de uísque e fumasse um marlboro e mandasse uns 3 tomarem no cu, é mais ou menos isso, isso aqui, que não pretende ser confissão, nem lembrança, nem emocionante, nem inteligente, nem valerá o post que será postado. Tem a premência de salvar, mas não é uma bóia, não provoca epifânias, e por isso nem é inspiração. Não provoca nada.
Ocupa. Aqui todo mundo precisa estar ocupado, quando dá essa vontade louca de morrer, é bom fingir ser algum objeto inexistente que serve para alguma função mirabolante, engenhosa, mas que não é sinceramente genuína.

Pronto. Ele já não quer ser um objeto inexistente.
Por enquanto acredita, acredita mesmo,
ser indispensável.