quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

To the twenty

Eu me sinto infeliz. Sinto que minha vida inteira fui feliz, mas que agora, nesse exato ponto, nesse exato contexto dela, me sinto incapaz para a felicidade. Eu posso olhar, posso tocar, posso andar, posso fazer tudo o que uma pessoa "normal" pode fazer, a única coisa que bloqueia todo o transbordar da minha juventude é esse sentimento de vazio que habita sei lá onde dentro de mim. Essa ausência de deus, essa ausência de mundo, essa coisa que ao invés de esmagar seu corpo com toda frieza, te deixa flutuar na imensidão imensurável de puro vazio, um vazio branco e inerte. A vida é um paraíso, o inferno sou eu. Isso me custa. Me custa tempo, e tempo é algo tão valioso para um ser humano, algo tão grandioso que se um homem pudesse acertar o seu tempo de vida, esse homem seria o mais feliz de todos os homens. E eu me sinto o infeliz entre todos os homens. Eu observo o mundo girar e fico tonto de tédio. As pessoas me parecem felizes, mas ao mesmo tempo parece que cada sorriso esconde um bocejo. Eu escondo uma boca enorme que se abre e se fecha o tempo todo. Uma boca tediosa e extremamente desajustada com o ambiente. Me sinto sozinho, mesmo dentro de um lugar que contém milhões de pessoas. E eu me sinto separado dessas pessoas, separado como uma estrela. O universo todo para percorrer, percorrer sozinho, pois nesse exato momento eu me encontro sozinho dentro de mim mesmo. Não há pai, não há mãe, não há irmãos, não há casa e não há sequer um destino, porque destinos não existem. Porque o destino é invenção dos fracos, e eu sou um fraco, um miserável que a cada dia se torna mais sábio e mais vazio, e mais desajustado, e sentindo mais mal-estar na civilização. Eu vou fazer vinte anos daqui alguns dias, e sinto como se minha vida fosse acabar, porque eu cheguei a um ponto de insatisfação que se comporta como uma parede no caminho dos anos. E essas pessoas dizem que isso tudo é puro fatalismo, mas isso é só o mais puro jeito de um ser humano. Um ser humano que se descobriu vivo, e por isso sente medo. Sente medo de tudo que se mexe diante dele, porque tudo é tão pálido e inconsistente, que a vida parece um sopro. Eu vou fazer vinte anos e me sinto vinte anos mais velho do que essa idade.


"Existe sempre alguma coisa ausente." - Camille Claudel

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Carta a D.


"Ponho-me a chorar. Soluço alto, feito uma criança. Agora me ocorre com toda clareza: Você está sozinho no mundo! Está sozinho...sozinho...sozinho... É amargo ficar só...amargo, amargo, amargo, amargo. Isso não tem fim, é insondável, e é o destino de todo homem na terra, sobretudo o meu... sobretudo o meu. Mais uma vez a metamorfose. Mais uma vez tudo oscila e tomba. Estou de novo no sonho, o sonho doloroso, delirante, prazeroso e enlouquecedor de além fronteira.Estou de pé no meio do terreno baldio, mas não vejo minha casa. Não tenho casa. O sonho era uma miragem. Minha casa não está neste mundo, nem no próximo. Sou um homem sem lar, sem amigo, sem esposa. Sou um monstro que pertence a uma realidade ainda inexistente. Estou louco, louco de dor, louco de angústia. Estou desesperado. Mas não perdido. Não; existe uma realidade à qual pertenço. Está longe, muito longe. Posso andar de agora até o dia do Juízo Final de cabeça baixa e jamais encontrá-la. Mas ela está lá, tenho certeza."



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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


" O homem é o animal cujo maior desejo é tornar-se humano."
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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ensaio sobre o Blablablá

A verdade é que ninguém sabe onde fica o meio, o começo ou o fim, pois não há como saber onde começa e onde termina uma esfera, e assim é o mundo. Eis o universo, sustentando sua elegância sobre mim. Qual é o peso do tempo, da velocidade e da realidade? Por que tais coisas que são tão imensuráveis chegam a ser mensuráveis para nós? O senso-comum faz do sol uma bola de fogo que divide o mundo em seus dois extremos, e com isso, divide a humanidade em seus minuciosos fragmentos. Já o cientifico faz do sol uma estrela igual ou não a muitas outras espalhadas pelos multiversos dentro do céu. O que é mais quente e o que é mais frio? Conhecer as coisas em suas complexidades diversas, e para isso adentrar dentro delas, ou apenas conviver pacificamente na superfície de tais coisas? Não sei. O que eu sei é que a verdade absoluta, se é que tal verdade existe, é insuportável. Você vive sua vida toda olhando para uma estátua coberta por um véu, e depois, em um belo dia você resolve, vou levantar o véu e ver o que há por detrás dele. Será mesmo uma estátua? É aí que começa o real, e ele não é nada agradável. Você levanta o véu e vê que aquilo que se assemelhava a uma estátua não é nada mais do que uma pedra sem formato algum. Eis o problema de todos, enxergar formas onde as formas não cabem. Mas quem é capaz de levantar tal véu? A pergunta é: Quanta verdade você suporta? O mundo é uma vontade e uma representação, você escolhe de certa forma como ver o mundo e esse ver pode ganhar proporções fantásticas, que eu chamo de senso-comum, ou proporções tão complexas que disseca o mundo e o mostra de uma forma bruta e incoerente. Porque a verdade contida nas coisas não possui coesão. Ela é tão complexa, que a partir do momento em que você olha para ela, o choque realístico tilinta nos seus nervos.

Enquanto as pessoas se assustam com fantasmas, com deuses, com demônios, eu me assusto com o mundo. Sou assombrado por ele, porque ele está em todas as parte. Eis o Deus da terra prometida: o mundo. Quem pode ser mais Onipresente, Onisciente, Onipotente do que o mundo? Ele está em todas as partes. Observa todos os seus habitantes e pode destruí-los em uma simples mudança de eixo. O fatalismo é algo que agora vive em mim, e quem dera eu fosse um macaco que vivesse em uma tribo de macacos onde os seus "amigos" retiram de você o parasita com a mão e os extingue entre os dentes, fazendo sumir todas as angustias causadas por ele. Mas acontece que o ser humano evoluiu, e evoluiu para toda sua sofisticação de linguagem e pensamento, se esquecendo assim do básico da convivência. Hoje cheguei a conclusão de que os animais vivem de maneira melhor do que os seres humanos. Pois de alguma forma, nos afastamos do nosso espírito natural. A natureza. E eu realmente sinto que é de lá que eu vim, pois todas as vezes que esqueço a cidade e seus ápices de vermelhidão e olho para o outro lado do mundo, onde vive a natureza, me sinto estranhamente atraído, como se lá fosse o meu lugar. Como se lá fosse o paraíso perdido de Adão e Eva. O Jardim do Éden engolido pelas metrópoles e pela vontade bizarra da multidão de se tornar uma máquina. Ai de nós, que até as plantas superam o viver.

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