terça-feira, 22 de dezembro de 2009

There's a fade.

A família que lhe falta. A luz que lhe falta. O prazer que lhe falta. O prazer à vida. Há o fio que. Há o fio que nos. Há o fio que nos une. Há o nó. Há o nó na garganta. Palavra engarrafada. Há o fado. Há a dor que irrompe. Há a dor que irrompe do fluxo. Do fluxo contínuo da vida há a dor que irrompe. Há a dor que irrompe do fluxo contínuo da vida e arrasta, e arrasta mundo a fora nossa história. Que somos? Que somos além do resto, do resto da chuva? Que somos? Que somos além de fins? Fins. Fins. Fins.

Ferida Negra.
Tarde Negra.
Pássaros Negros.

O olho do pirata.

Quem me tirou. Quem me tirou enquanto eu dormia. Quem me tirou enquanto eu dormia e me arrastou para fora de meu corpo. Quem me tirou agora sabes. Agora quem me tirou sabes. Sabes que eu não sou nada além de meu corpo. Doença que voa. Que voa através do dia, uma doença. Há em ti o indescritível. Há em mim o inominável. Feitos um contra o outro. Feitos um contra o outro. A família que me falta. A luz que me falta. O prazer que me falta. O prazer à vida. Há o fio que. Há o fio que nos. Há o fio que nos une.

Filtro de outro.
Filtro de ouro que revela a geometria insuportável.
Há a geometria insuportável do mundo.



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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Infâmia - 1961





"Eu serei o seu espelho; Não serei o seu reflexo, mas serei o seu engano." - Baudrillard
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Céu em chamas.

A noite dentro do gomo das mãos e as estrelas girando ao redor dos olhos, auréolas perniciosas. Estátua grega que seduz os miolos e faz a cabeça erguer-se além de sua possibilidade, fazendo gemer o sangue, fazendo o músculo quebrar como uma haste e a flor rubra cair sobre o chão em chamas. É o amor cujo nome verdadeiro é flecha, é o coração cujo nome verdadeiro é alvo, é o cúpido bastardo que engole vermes para satisfazer os amantes alucinados. Somos eu e você olhando o mundo e retraídos com uma vontade louca de esquecer sabe-se lá o que. Tua mão pega a minha e juntas formam um casal, saem as duas cavalgando o ar e aqui ficamos sem os nossos membros. O amor é uma idéia e não precisamos do físico para satisfazê-lo - não é isso que ele nos diz? Ele, o grande Deus do amor que a tudo ama e a tudo fere com suas patas invisíveis e suas mil línguas salgadas que roçam as nuvens e fazem do firmamento uma selva de fogo e de pedras. E agora vamos! Vamos caminhar até o limite! Até o horizonte! Até encontrarmos a parede boreal que bloqueia nossa passagem e lá morrermos como piratas que naufragam no oceano e são enterrados no mar junto aos seus tesouros. Somos criminosos inatos e nosso assassínio foi cometido há muito tempo, antes de nós. E o besouro verde voa como uma jóia belíssima ao nosso redor, e as moscas são pedras negras que levitam no ar e nos olham, nos denunciam, nos abandonam junto a nossa beleza para depois cairmos no poço do Narciso e lá ficar a deformar e admirar nossa própria perda.


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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os Moedeiros Falsos - Fragmento IV


"Eu nunca sou apenas aquilo que creio ser - e isto varia o tempo todo, de forma que, muitas vezes, se eu não estivesse lá para aproximá-los, meu ser da manhã não reconheceria o da noite. Não há nada mais diferente de mim do que eu mesmo. [...] Meu coração só bate por simpatia; vivo apenas por outrem; por procuração, poderia dizer, por núpcias, e é quando saio de mim mesmo para me tornar qualquer um que sinto viver mais intensamente que nunca."






André Gide.



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