segunda-feira, 25 de maio de 2009

Persona




"(...)Mas o que é interessante é sua alteridade secreta. E antes que buscar a identidade sob a máscara, deveria se buscar a máscara sob a identidade - a face que nos persegue e nos desvia de nossa identidade - a divindade mascarada que de fato persegue a cada um de nós por um momento, de vez em quando."
(BAUDRILLARD, 1993a).
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

De Janmot Louis, Poema da Alma.


O amor queima a vida e faz voar o tempo.
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sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Psicologia Kafkiana do ser


A leitura da obra “Metamorfose”, de Franz Kafka é extremamente atual, em que pese ter sido escrita em 1912, contextualizada no momento histórico da crise da “Bélle Époque” que antecede a Primeira Guerra Mundial, Kafka está em meio a uma crise existencial, religiosa e racional, poderia ser chamada de crise da Modernidade. Neste livro, fica evidente a desesperança do ser, o pessimismo com relação ao futuro, a falta de respostas às questões mais simples e às mais profundas. Enfim, “A Metamorfose” é uma obra agressiva, verídica, mordaz e, acima de tudo, de resgate de valores e princípios.


A metamorfose do caixeiro-viajante Gregor Samsa em um inseto nojento nos remete a uma série infindável de questionamentos.Um primeiro pode ser a situação da solidão humana em sua plenitude, isto é, no íntimo indissolúvel, de nada adianta estar com alguém ou estar acompanhado, pois nosso passado e nossas experiências são únicos. E, perante o mundo e o todo somos um nada insignificante. Daí, talvez, a metamorfose tenha sido percebida por Gregor ao despertar pela manhã, imaginando-se ainda em um sonho que possivelmente somatizasse sua realidade.Também se percebe a necessidade de isolamento, ou talvez de fuga, presente na situação, já que o protagonista sentia-se reconfortado em não mais ter compromissos com a família, o trabalho e a sociedade como um todo. Além disso, fica explícito certo prazer em não mais compactuar com pessoas e situações que abominava, ainda que transformado em uma barata. Parece uma forma de vingança surda e imunda.


Porém, essa situação metamórfica impede Gregor de expressar todos os seus sentimentos, toda a sua raiva e indignação, seja contra a família que o explorava, o patrão que o oprimia ou a sociedade em geral que o sufocava. Neste impedimento se estabelece uma relação de desumanidade real, já que o mundo impõe essas situações a todos nós.


Sem dúvida estamos diante de um ser absolutamente pobre de espírito e iniciativa, dominado pelo descaso consigo e o mundo. É um ser angustiado que não percebeu em sua angústia e agonia a possibilidade de mudança, mesmo que para isso houvesse sofrimento e dor. Preferiu a acomodação e o posterior rebaixamento à condição subumana ao invés de subtrair de seu passado, de filho dominado, de empregado subordinado, de sua condição de pequeno-burguês decadente, as condições necessárias para sua libertação.


Talvez o fato que ilumina mais fortemente a obra em seu aspecto psicológico seja o momento que o pai de Gregor tenta lhe matar atirando uma maçã. Aqui se presencia uma relação edipiana mal resolvida que, possivelmente, nos esclareça a formação e o caráter do protagonista enquanto angustiado, inativo perante as coisas do mundo, transformado em um inseto pelo pai opressor. Ora, quem o transformou em uma barata indefesa foi ele mesmo, que não reagiu e não assumiu a sua condição de sujeito, seja perante o pai, a irmã e os demais.


A morte de Gregor representa uma libertação para todos, principalmente para si, pois é esquecido; mas, por outro lado, a verdadeira transformação ocorrerá não com ele, mas com os outros: o pai do narrador sai da completa apatia para a atividade, a irmã sai da solidão para o convívio, a família ( pai, mãe e filha ) antes presa ao escuro do lar sai para o sol, para a vida, para um futuro que promete felicidade. Por mais que um sujeito imagine ser possível viver sozinho, mesmo que ele seja esquecido, seus atos produzirão efeitos nos outros. Essa transcendência do eu para o outro pode ganhar tanto sentido filosófico, religioso, psicológico.


Pensadores como Marx, Nietzsche, Heidegger e as descobertas de Freud do inconsciente dão uma resposta à objetividade e racionalidade extrema, pondo em cena a subjetividade. Para Marx, o que ultrapassava o sujeito e sua capacidade de conhecer era a própria história e o futuro, no qual tinha que se investir de imediato. A salvação e a transcendência eram uma questão de tempo. Uma geração investindo na salvação da próxima.Esse sacrifício e transformação na própria carne para salvar o outro, mesmo que às vezes sem se dar conta disso, aparece de forma extrema na “Metamorfose”. Assim, podemos nos questionar sobre qual é o real valor do ser humano perante a sociedade e até mesmo perante os seus.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Os Outros


Ninguém suporta a vida sozinho, isso é de conhecimento público. O recém-nascido ou tem uma mãe que possa estender sua existência ou ele não existe. Perceber essa submissão ao outro é raro. Vivemos a vida de modo a ignorar a existência do outro como extensão da nossa própria existência. Ao ignorar essa existência coletiva, que faz da nossa existência uma célula dentro do corpo de uma existência maior, estamos fadados ao espaço não-potencial. O que é o espaço potencial? É onde todas as possibilidades existem e coexistem harmoniosamente.
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A vida é basicamente esse espaço potencial, e o outro é concomitante uma possibilidade e uma nova extensão do próprio eu do observador. O espaço não-potencial é onde nada pode existir, pelo simples motivo da nulidade de possibilidades. Se uma possibilidade não existe, nenhuma outra pode existir. Se no inicio da vida não houvesse a possibilidade de uma transformação, seríamos eternamente um emaranhado de células sem profissão. As possibilidades mudam o ser, através do outro ser. O outro ser é uma possibilidade, e sendo uma possibilidade é, ao mesmo tempo chave e porta.
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Sartre diria que o inferno são os outros, eu digo que o inferno se constitui ao negar os outros. Sem os outros não existimos. São os outros que possibilitam a nossa existência, seja ela para o bem ou para o mal. Mas, o fato é que, desejamos algo que nunca se perca, e essa possibilidade não pode ser encontrada no outro e nem no próprio observador. O espaço não-potencial se infla, ocupa o lugar daquilo que geraria todas as possibilidades. É quando o tempo pára e os outros se tornam o demônio. Aceitar a vida é aceitar que tudo se perde, se esgota, se esvazia com o passar dos dias, e essa aceitação é difícil para qualquer ser humano que tenha as emoções ativas. Aceitar o outro e se aceitar como parte integrada do outro é aceitar que o outro é algo tão volátil como aquele que aceita o outro.
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Somos todos uma neblina no amanhecer. Uma simbiose de memórias e vontades. Todos unidos em um único super-átomo, que explode e implode a cada tilintar da recusa. O mundo se estende através da nossa pele, que guarda o mapa secreto de toda a humanidade. Eis-me aqui, eu e toda a humanidade.


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