segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Nome Científico Da Formiga



No meu caderno de aluno
Na minha carteira e nas árvores
Nos areais e na neve
Escrevo teu nome
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Sobre as imagens douradas
Nos estandartes guerreiros
Tal como na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Nas selvas e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No eco da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas da noite
No pão branco dos dias
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
Nos meus farrapos de azul
No pântano sol alterado
No lago luar vivente
Escrevo teu nome
Nos campos do horizonte
Sobre umas asas de pássaro
Sobre o moinho das sombras
Escrevo teu nome
Paul Éluard - Liberté
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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Winter Session

O inverno chega dentro de mim. O frio intenso, a neve que bloqueia as passagens e faz os sentimentos se aglutinarem e formarem um canhão, pronto a ser disparado em direção ao mistério das direções. O peito se afoga dentro dele mesmo, no lago da secreta e indecifrável solidão humana. Eu sei, a vida é perturbadora quando questionada de frente. A verdade da vida escandaliza os homens e esses com a moral danificada correm até os penhascos e ensaiam a morte durante séculos. Querem ser donos da própria hora. Quando descrevo o frio visceral que assola os pulmões de meu corpo também descrevo a universalidade das agitações humanas. Somos tão iguais nessas noites, percorremos o obscuro olhar das estrelas e nos deparamos com nossas palavras que são mistérios, lendas e astros. E quando olho para o céu noturno completamente salpicada do brilho que me é por excelência distante, me deparo também com minha pequenez e meu grito é mudo nessas veredas. Mas é na distância de mim mesmo que me encontro melhor e me conheço de forma completa. É um mergulho dentro das águas encefálicas do espírito e é também uma rebelião contra os sentidos, que são tão verdadeiros e práticos que nós, complexos por herança, confundimos os sentidos dos sentidos. O olhar de um humano é também o olhar de uma multidão. A pergunta de um humano é também a pergunta de milhões. E a vida que é absurda e é uma pequena luz entre duas escuridões se agita como um animal feroz e se rebela contra nós. Mas talvez somos nós quem não sabemos como lhe dar com ela. E o inverno é também uma necessidade. Precisamos sentir o frio para conhecer os prazeres dele e também reconhecer os prazeres de outrora, das antigas estações, dos dias que um dia foram e não são mais. No mundo tudo que é, é somente uma vez. É na ausência de um elemento que lhe damos mais valor, porque quando ele está por perto é como parte da paisagem e por isso também banal, mas quando ele é retirado se torna precioso porque perdido. O paraíso . Nós sabemos em nosso secreto pulsar de pensamentos que os valores mais preciosos estão nas coisas que já se foram. Talvez porque precisemos de muito aprendizado para separar os elementos. Retirar o véu banal das entidades e revelar o brilho singular que cada uma tem. É preciso aprender a viver no inverno e é preciso aprender a amar e abraçar a nós mesmos como se amassemos e abraçassemos algum outro; porque é na alteridade que encontramos o próprio valor da vida. Precisamos ser outros para então sermos nós mesmos. Precisamos dos Invernos para então reconhecer o valor da pele e dos músculos. O valor de nós mesmos, que trememos em busca de recordar a baforada morna da boca do sol. Em busca de recordar o espanto que é acordar e se descobrir vivo, mais uma vez. Repetir a saída do útero e o encontro com o mundo por vezes indeterminadas.




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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Memórias De Adriano - Fragmentos I

"De todas as venturas que lentamente me abandonam, o sono é uma das mais preciosas, embora seja das mais comuns também. Um homem que dorme pouco e mal, apoiado sobre dezenas de almofadas, medita com vagar sobre essa volúpia diferente. Concordo que o sono mais perfeito é necessariamente um complemento do amor: repouso tranquilo, refletido sobre dois corpos. Mas o que me interessa aqui é o mistério específico do sono saboreado por si mesmo, o incontrolável e arriscado mergulho a que se aventura todas as noites o homem nu, só e desarmado, num oceano onde tudo é novo: cores, densidades, o próprio ritmo da respiração, e onde tudo reencontramos os mortos. O que nos tranquiliza no sono é a certeza de que dele retornamos, e retornamos os mesmos, já que uma estranha interdição nos impede de trazer conosco o resíduo exato dos nossos sonhos. Outra coisa nos tranquiliza ainda: é que ele nos cura temporariamente da fadiga pelo mais radical dos processos, isto é, arranjando para que cessemos de existir durante algumas horas. Nisso, como em outras coisas, o prazer e a arte consistem em nos abandonarmos conscientemente a essa bem-aventurada inconsciência, consentindo em sermos sutilmente mais fracos, mais leves, mais pesados e mais confusos do que nós mesmos. A morte e a ressurreição. "


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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sarah Blasko Feelings

So that's why I wont wake you where you lie
If I could now I´d freeze time
I cant find forever in your eyes
I should leave you while they´re dry
Everything is perfect now
I dont want to make a movement




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terça-feira, 15 de setembro de 2009

E como já dizia Galileu: Isso é que é amor!

O amor deve nos salvar da banalidade. Não é uma missão ou um dever como o "deve" sugere, muito menos um compromisso; é uma característica. O amor só poderá ser chamado de amor quando este nos retirar da banalidade da vida e da banalidade da morte. Não se trata de um escapismo, mas de uma nova compreensão. O amor é como novos olhos que usaremos para olhar o mundo e olhar a nós mesmos. E esse sentimento tão desgastado pela palavra é o único que comporta em si a qualidade divina de deslumbrar o infinito; o amor é o único que poderá saber exatamente quantas estrelas há no universo e quanto de nós mesmos há naqueles que amamos, pois é isso que se pode chamar de amar, porque amar não é descobrir algo novo no outro, mas sim reconhecer algo no outro que te faz lembrar e esquecer tão completamente de você mesmo. É um mecanismo simétrico: A alma abandona o corpo, esvazia-se pelos poros e flutua até o outro corpo. No outro corpo a alma do primeiro encontra a alma do segundo, essas almas trocam sutilezas no vazio incompreensível do invisível que nos cerca, e após a troca, as almas também se trocam e revezam entre si a morada dos corpos; há dias que sua alma mora em mim e há dias que minha alma mora em ti. E assim o amor vai nos retirando da fuligem do cotidiano, dos sorrisos bocejantes e da banalidade de todas as coisas, e nos faz encarar algo totalmente novo e completamente antigo; Faz ouvir dentro de nós o som de marés onde sequer há mar, faz tremer em nós a terra onde sequer há terra, faz haver lua e sol e estrelas onde sequer há espaço para tanto; o amor tem espaço para tudo. Ele é dono do tempo e não o contrário. E é esse amor que faz escorrer entre os dedos as horas que perdem seus torturantes significados, porque quando as horas são horas do amor, cada hora que passa é uma hora reencontrada. E assim calvagamos esse sentimento. E assim vivemos esse sentimento. Fora da banalidade, graças a Deus! Pois o amor que é banal e é comum não é amor, é carência. O amor que enxerga o tempo é um amor pobre de espírito. O amor que espera no silêncio é covardia. E o amor que não enxerga as constantes mutações da vida é preguiça. O verdadeiro amor é capaz de tantas transcêndencias quanto possível. Ah, como é rebuscado falar de algo tão surpreendente! Quantas palavras se perdem na busca pelo significado? Mas que diabos vamos fazer nós, os seres humanos? Que de ferramenta só temos a linguagem. Ferramenta que escava o mundo e as pessoas. Sem as palavras o mundo não é possível. O amor deve nos salvar da banalidade. Nada é banal, nada pode ser banal, nada tem que ser banal. Ora, a vida é tão desconcertante para nós que chega um momento que sabemos em nossos recursos íntimos que a única forma de significar no mundo a nossa existência é estendendo ela até a existência mais próxima; próxima não de distância, mas de significância. Caros amigos, não queiramos alguém para tampar nossos buracos existenciais, mas sim queiramos alguém para criar dentro de nós novos espaços: espaços tão cheios de vida que engolirão os buracos e transformarão nossa entidade interna em um grito eterno de juventude e transcêndencia. Alguém que nos faça sentir a vida e que cure a ferida do nascimento - o momento em que perdemos pela primeira vez - alguém que cumpra em nós um itinerário eterno, alguém que percorra nossos corredores e nossos vãos, alguém que descubra no silêncio antigo de nossos âmagos a resposta para a própria vida. Caros amigos, queiramos alguém para amar e amar, queiramos alguém para superar a tão delicada tristeza que é estar vivo. Queiramos alguém para compartilhar o metálico fardo da existência e fazer do peso algo tão suportável como o ar que suportamos sobre os nossos ombros. Ah, caro amigo, como explicar? Como explicar que nós nascemos amargos e então vivemos em busca de nos adoçar?



"Enfim, lancei
de mim um grito
em ti, fui um
com o infinito

No ápice,
em átimos
que pareceram séculos
eu me banhei
e me lavei
em sexo e luz."


sábado, 12 de setembro de 2009

Imagens

A noite foi obscena de tão lúcida. O fato é que a dor transforma todas as coisas em arte. Então eu caminho sobre esse fio e faço de mim mesmo algo que eu possa criar. No escuro todas as incertezas são certezas, e andar sabendo que seus olhos pairam sobre mim como um sol me faz arder de febre. As palavras são inúteis, as ações são inúteis, agora, nesse exato instante do evento tragicômico que é nossas vidas. Só me resta gritar. Esse grito interno que ecoa e a tudo engole para depois reciclar. Traga-me seu filho! Há um prédio sendo demolido dentro de mim, e ele é levado ao chão mil vezes por dia; o mesmo prédio. Há uma cidade inteira sendo devastada dentro de mim por um oceano que só é doce para aqueles que nele não naufragaram. E olhar para uma cena que um dia você viveu sendo repetida sem você é atroz, e carrega em si as doses exacerbadas do iluminismo sombrio. O fato é que agora você dorme, e dorme envolto de toda uma tranquilidade que eu sempre sonhei conquistar. Talvez esteja nos braços que não são meus, talvez esteja entre as pernas que não são minhas e talvez esteja olhando dentro dos olhos que não são meus. Não são meus, mas foram, um dia foram, um dia em nossa vida tudo é. Observar a ação que provoca meu sofrimento é de uma violência sem precedentes, e o que mais assusta é a banalidade desse sofrimento. A verdade é que eu não sabia que o nosso amor era tão pequeno. Mas ele sempre foi. Ele era sensível, pois quem sabe, era apenas uma tentativa que nunca se tornou verdade. Agora todos esses sentimentos transbordam do meu corpo e eu nada posso fazer. Eles estão indo, cada vez mais longe, estão indo. E eu não posso agarra-los, eu não posso absorve-los novamente e fazer deles algo meu, pois estão perdidos desde o dia em que eu parei de lutar, parei de falar e parei de olhar para todas as coisas que imploravam para serem vistas, amadas e resolvidas. Pois é esse o mecanismo onde eu não posso viver, esse é o dispositivo que eu me tornei por um tempo e que eu logo reconheci não ser meu, mas sim uma emulação de coisas que nós, tolos e belos humanos, tentamos reproduzir. Traga-me seu filho! Seu olhar está dentro da minha cabeça e você inteiro me dói. Você está aqui, rodando e rodando dentro da minha cabeça com um filme que nunca pára e nunca desisti de ser visto em seus mínimos e terríveis detalhes. Terríveis porque são lúcidos demais para serem suportados pelos nossos ombros, e as coisas lúcidas carregam em si a fatalidade de serem mais pesadas e mais tenebrosas. E por isso bebemos, e por isso esquecemos, e por isso voltamos a lembrar, e por isso somos lembrados e por isso nós lembramos, e por isso nós não somos mais. E eu lhe pergunto, se você fosse um pensamento você gostaria que eu te pensasse? Minha linda máquina de fazer ódio está ao meu lado esquerdo e meu corpo está ao meu lado direito, e quem escreve aqui não sou eu, ou talvez seja tão eu que eu não reconheça esse ser; é que usamos tantas máscaras e fantasias que nosso verdadeiro ser se esquece nos adornos e quando tudo que nós queremos é retirado e sobra somente o eu puro e metálico, se torna assustador a imagem e a representação verbal de nós mesmos. A sua imagem e a imagem dele estão petrificadas em mim, congeladas no tempo como uma gota de orvalho que nunca atingiu o chão. Sou seu porque ainda não voltei para mim mesmo. Ora, amar é isso, amar é abandonar o próprio corpo em busca daquele corpo que está diante de nós oferecendo o abrigo para nossas turbulentas almas. Minha alma ainda está em seu abrigo, em seu templo, em sua voz. E por mais que suas palavras tentem liberta-la, por enquanto eu te digo, quem libertará ela será meu corpo que sentirá a falta orgânica do suspiro que evoca vidas e vontades; minha alma estará de volta em meu corpo logo quando eu compreender verdadeiramente essa situação tão delicada para mim. O meu orgulho é grande demais para que eu admita que faço e fiz algumas coisas porque sou perdidamente tresloucado. Pronto! Meu orgulho acaba de ser ferido no instante em que eu contei o segredo que ele tanto guardou. E o que eu tenho a dizer é que eu sinto verdadeiramente vontade de esquecer tudo isso, mas algo em mim não quer esquecer, algo em mim precisa falar. Falar, falar e falar até perder a consciência do mundo e dos significados deste. Mas o amor, meu caro, me faz funcionar como um redondo relógio de ouro. Então o que me resta fazer é tentar tomar meu lugar entre os elementos. A verdade é que a noite toda seu hálito de mariposa flutuava perto de mim, até eu acordar e ouvir longe, um mar se movendo em meus ouvidos; era você, tão longe como o mar que eu nunca conheci.


"boys on my right side
boys on my left side
boys in the middle
and you're not here
boys in their dresses
and you're not here
You´re not here"

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Belo Sorriso De Karenin

Não ame somente pela beleza, amar somente por ela é um engano. Não porque ela irá acabar, como certamente um dia irá, mas sim porque ela por si só não sustenta as relações humanas. Gostamos daquilo que é belo, mas gostamos mais daquilo que faz arder o coração. A beleza externa é um magnetismo. Ela atrai. Ela é como uma lâmpada acesa que captura para si os insetos e as vontades. O fato é que, aquilo que é belo é precioso até o momento que nos cansamos e que descobrimos que aquilo é somente belo e nada mais. Nós somos arqueólogos inatos, estaremos sempre escavando as pessoas, querendo descobrir as antigas civilizações que elas guardam, os antigos artefatos, as antigas e eternas belezas do mistério dos sentimentos humanos. São nessas escavações que aquilo que é belo é posto à prova. A verdade é que se a beleza nos bastasse viveríamos das artes, de todas elas. Mas não é. Não basta. Queremos algo mais. Queremos amar humanos, e não deuses idealizados em nossas cabeças. Idealizamos tanto, criamos as pessoas dentro de nós e praticamente nos esquecemos que elas existem de verdade. Somos acostumados com os sonhos e com aquilo que não se vê, com a sedução do invisível, com as idéias platônicas, porque aquilo que se vê é perturbador porque está vivo e é por excelência um ser autônomo, que está fora de nossas mãos, de nossas mentes. E o que assusta e causa horror é que tudo que é vivo não comporta cálculo, tudo que é vivo é indecifrável. Queremos decifrar. Queremos ver através dos olhos daqueles que amamos, olhar pelo buraco da fechadura, descobrir o que é que há dentro daquela esfinge que se posta diante de nós com o mistério. Aquilo que é misterioso é belo, mas todo mistério também cansa. Mas o belo quando provoca pequenas epifanias, quando faz o coração explodir e quando faz nascer dentro de nós uma pulsão que destinará nossos membros a percorrerem grandes distâncias para alcançar aquilo que acaba de nos ferir - ferir com a beleza que transcende a aparência - não pode ser mais considerado somente belo, mas sim grandioso o suficiente para fazer da vida algo mais brilhante que o próprio sol, motor da vida. Ou seja, quando a vida transcende e vai muito além daquilo que inicialmente proporcionou seu surgimento, a vida não é mais vida, mas é algo que a linguagem humana ainda não conseguirá descrever. Não ame pela beleza, mas sim por aquilo que da beleza emana. Quanto mais conhecemos certas pessoas mais amamos elas. Porque quando penetramos o íntimo, o secreto, o âmago definitivo do ser amado nós descobrimos que dentro do ser amado habita também um universo.


- It's wonderful!

- Where?

- Inside you.

- Why?

- Because it's full of stars.


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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Triste Sorriso De Karenin

Um pequeno mundo em minhas mãos e eu faço dele o que quero fazer. E antes era minha vida que estava fora de mim, em algum lugar, perdida na aurora que nunca prosseguia. É triste dizer que tudo acabou, que não há como continuar por essa estrada e que há uma muralha que impede a passagem mesmo que se queira atravessar. Há algo em nós que nunca nos trai, que está sempre lá para avisar que há limites em tudo. É um alarme sutil, que soa e avisa que certas coisas na vida não podem ser como nossa imaginação quer; mas que outras coisas serão exatamente como nossa imaginação quer. A culpa - esse sentimento corrosivo - não pode mais ocupar nossas mentes. Essa herança histórica que a nós destrói fácil. Muitas vezes podemos ser mais fortes do que nossos sentimentos, e muitas vezes nossos sentimentos são enganos ou são esconderijos que guardam segredos maiores e mais insuportáveis. Mas como explicar? Como explicar que a coisa mais bela no mundo é aquilo que se ama e aquilo que se ama é aquilo que mais dói? Nossas ações não foram em vão; Não. Nossa vida entrelaçada uma na outra foi algo de sublime que o tempo não pode apagar. Será como uma obra de arte que estará sempre além e aquém do entendimento comum. É isso, somos nós, somos nós observando o infinito. Somos nós conservando a beleza do momento que durará para sempre dentro de nossos olhos. É triste dizer que tudo acabou, mas é necessário dizer; É necessário retirar do oculto aquilo que nos faz sofrer e colocar luz nesse estranho: revelar sua face para descobrir que aquilo que mais nos assombrou é na verdade aquilo que irá nos salvar. É assim: As verdades são fantasmas que rondam nossas memórias até ganharem corpo. É preciso retirar o horror da perda e olhar para a lacuna que foi deixada não como um vazio, mas como uma bela vida à deux que sempre conservará a beleza daquilo que fomos e que sempre seremos. É preciso conservar no coração esse calor que sentimos para que isso seja a prova final daquilo que somos; daquilo que é. A beleza da vida consiste nas mudanças e o melhor sempre estará no campo do devir. Sabemos que as palavras não podem aplacar a tristeza que há em nossos olhos, pois aquilo que um humano sente não pode ser expresso através da linguagem, só interpretado. Mas é preciso saber que estamos cá dentro de nós a sós com nós mesmos e que há uma solidão que sempre existirá mesmo quando estivermos dentro de uma multidão de bons amigos e boas intenções; É preciso reconhecer o humano que há em nós e perceber que tudo aquilo que é humano jamais poderá ser estranho ou vulgar, triste ou feliz, perverso ou angelical, mas apenas humano. A verdade é que existem varias verdades, e que nós possuímos braços longos para justamente abraçar essas verdades: abraçar a vida, o mundo, as oportunidades, as mudanças, as perdas e os ganhos que compõem a nossa subjetividade. Nunca seremos melhores nem piores, seremos sempre diferentes. Falo por mim e por você, falo por agora, pois o restante que nos aguarda é incompreensível desde já. A mudança causa horror e tristeza, mas a mudança é algo de belo que os deuses deixaram para nós: para o nosso deleite e terror. Olhar para a vida e perceber que ela é antes de tudo tão nossa por excelência faz tudo ganhar um brilho e um sentido maior. Só quero dizer que expressar motivos é desnecessário, não existem motivos, o que existe é a mudança crua e pálida diante de nós, e o que precisamos fazer é cozer e lapidar essa pedra tão dura que está em nosso caminho. Somos felizes porque podemos mudar e se não pudéssemos daríamos um jeito de inventar uma máquina divina que provocasse todas as mudanças necessárias. Estávamos no escuro e agora estamos na luz, porque somos filhos do sol. Sempre amarei aquilo que fomos e aquilo que somos. Sempre amarei, antes de tudo, aquilo que é; Pois o presente é perpétuo, e nós nunca temos descanso.

A falling star fell from your heart and landed in my eyes


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