quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

We Were Sparkling

.
Uma sombra caiu obliquamente sobre eles, e foi tirada apenas quando um deles se levantou para colocar uma música, um soprano espanhol cantando "Cantaloube", sua melodia pura e agonizante flutuando, suas harmonias menores reverberando no pequeno quarto, como se para lembrá-los de que a beleza e a perda estavam inseparavelmente ligadas.

Os lábios do tempo beijaram novamente o rosto de um deles, como a mão de uma mãe reclamando o horário. Ele foi guiado até a porta por borrifos de vento e cinzas - o mosaico de imagens reduzido ao pó antigo do segundo de outrora. O outro caminhou como uma lesma até a janela, deixando rastros de musgo por onde passava, lembrando mais uma vez, o mofo do momento.

Sequer as estrelas fumegantes eram capazes de parar o que havia começado, um adeus químico e físico que se movia através do ar como um vaga-lume oscilante. O oxigênio rarefeito saltava dos poros como uma multidão de pequenos pedaços suicidas de pele, ambos se liquefaziam em um movimento eterno de composição, decomposição e recomposição.

O quarto se metamoforsiava em praia desértica, o que era antes um taco velho é agora um caminho de areia movediça ou não, porque a única verdade era, que tudo ali, dependia exclusivamente de ambos, cada movimento seria como um pequeno terremoto na estrutura onírica, podendo mudar-se assim, toda uma configuração pré-estabelecida de gestos anatômicos.

A verdade era que ambos estavam de costas e ambos estavam de frente, eles compreendiam mas não aceitavam que qualquer escolha excluiria a outra, que para cada sim dado ali, existiria um não sentenciado a eles. Na praia glauberiana e solitária, eles se olharam pela última, primeira ou qualquer outra vez. Aquele olhar encontrou um destino inexorável e eminente, o destino da perda de conexão, como se o fio metafísico que unia-os, era agora uma linha que unia a solidão e a espera.

Eles esvaeceram como uma névoa na noite coberta de júbilo, caminharam em direções opostas, quase esquecendo-se que caminham em algo esférico, algo sublime e concomitantemente simétrico e assimétrico. Quase esqueceram-se que vazio nenhum dura por muito tempo. Escolhas excluem, para cada sim, existe um não, mas, cada fim, é um prelúdio.
.

( Felipe C. )

2 comentários:

Pedro. disse...

my brightest diamond - we were sparkling

as coisas são mais vívidas e vividas quando detalhadamente descritas.

alex.n disse...

O quinto parágrafo é meu predileto... tem a parte do sim q gera o não... tem metafísico... tem a solidão e a espera... depois tem o caminho q é uma esfera... e dai lembrei do clipe de Across the universe com a Fiona... mas poderia ser com Saul e Raul... só pra ficar nas referências mais habituais!