terça-feira, 12 de maio de 2009

Os Outros


Ninguém suporta a vida sozinho, isso é de conhecimento público. O recém-nascido ou tem uma mãe que possa estender sua existência ou ele não existe. Perceber essa submissão ao outro é raro. Vivemos a vida de modo a ignorar a existência do outro como extensão da nossa própria existência. Ao ignorar essa existência coletiva, que faz da nossa existência uma célula dentro do corpo de uma existência maior, estamos fadados ao espaço não-potencial. O que é o espaço potencial? É onde todas as possibilidades existem e coexistem harmoniosamente.
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A vida é basicamente esse espaço potencial, e o outro é concomitante uma possibilidade e uma nova extensão do próprio eu do observador. O espaço não-potencial é onde nada pode existir, pelo simples motivo da nulidade de possibilidades. Se uma possibilidade não existe, nenhuma outra pode existir. Se no inicio da vida não houvesse a possibilidade de uma transformação, seríamos eternamente um emaranhado de células sem profissão. As possibilidades mudam o ser, através do outro ser. O outro ser é uma possibilidade, e sendo uma possibilidade é, ao mesmo tempo chave e porta.
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Sartre diria que o inferno são os outros, eu digo que o inferno se constitui ao negar os outros. Sem os outros não existimos. São os outros que possibilitam a nossa existência, seja ela para o bem ou para o mal. Mas, o fato é que, desejamos algo que nunca se perca, e essa possibilidade não pode ser encontrada no outro e nem no próprio observador. O espaço não-potencial se infla, ocupa o lugar daquilo que geraria todas as possibilidades. É quando o tempo pára e os outros se tornam o demônio. Aceitar a vida é aceitar que tudo se perde, se esgota, se esvazia com o passar dos dias, e essa aceitação é difícil para qualquer ser humano que tenha as emoções ativas. Aceitar o outro e se aceitar como parte integrada do outro é aceitar que o outro é algo tão volátil como aquele que aceita o outro.
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Somos todos uma neblina no amanhecer. Uma simbiose de memórias e vontades. Todos unidos em um único super-átomo, que explode e implode a cada tilintar da recusa. O mundo se estende através da nossa pele, que guarda o mapa secreto de toda a humanidade. Eis-me aqui, eu e toda a humanidade.


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3 comentários:

tiago joaquim. disse...

coexistência e harmonia.
julgo um desafio.

Anônimo disse...

aceitar a vida eh isso msmo...verificar a harmonia (embora caotica) que sempre existiu no estado de natureza no caos criado por nos...
parabens de novo! o pai manda cds sds tb!!

alex.n disse...

O outro pode ser o espaço amor-potencial!