segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A vida não é um por exemplo.

Suas palavras têm a duração de um dia. Elas não vão além de um dia. E eu? eu vou, vou além e aquém de um dia. Talvez esse seja um defeito ou uma qualidade, não sei. O fato é que eu estou pregado como um inseto em uma teia de aranha. Pregado em certas palavras. Estou lá no centro de suas vibrações, esperando para ser comido por aquelas palavras. Palavras ditas no calor espumante de um fim de noite. Um calor mais espumante do que aquele que há no centro da terra. O calor que senti foi importante, porque foi um maldito calor humano. Um fogo que saiu de seus olhos e queimou os meus olhos lá no escuro de nós. E você disse todas as palavras que eu esperava que dissesse, e você me abraçou com a força de um leão. Me derrubou dentro de seu corpo e me fez perder a luz. Eu não queria a luz, talvez nunca quis. Talvez estivesse cansado de enxergar e quisesse apenas estar cego dentro do seu escuro. Ser guiado pelos sons das palavras ondulantes que você me dizia. Como eu sabia, meu Deus! Como eu sabia que aquele momento seria em vão. Porque ele não comportava destino, não comportava nem passado e nem futuro, era apenas um recorte de algum tempo que nunca existiu e que jamais existirá. Era um momento inexistente que incessantemente eu fabriquei para o meu deleite e terror. Era uma pequena luz que se acendia com a força do meu giro. Girava feito um bailarino sobre o momento, para que aquele momento faiscasse, e foi apenas isso: faíscas. Então eu me volto para o seu rosto e lhe digo, caro amigo: Não estou a fim de ser mais o menino maduro e amigável. Estou a fim de ser louco, ou melhor, estou a fim de assumir o que sempre fui: um louco! E agora estou bem cansado de toda sanidade falsa que permeia as relações humanas. Estou a fim é de arder no fogo da minha loucura. Estou a fim de lançar maldições contra seu destino e seu corpo. Estou a fim de gritar seu nome pelo ar e explodir estrelas com todo a força sonora que repercutirá de meu grito, que nem por isso será menos silencioso. Quero rasgar seus olhos e macular sua pele, sua pele falsa. Sua pele quero macular. Quero também destruir seus sonhos, explodir um a um como quem explode balões num fim de festa. Quero atirar meus cães contra você. Quero detonar bombas nos vãos de teus pensamentos e fazer você sacudir e implorar pela calmaria de meus braços. Mas não, não! Quando tudo for um mar calmo, eu serei a tempestade. Quando tudo for sorrisos, eu serei os gritos, serei milhões de loucos vagando pelo seu quarto. Cansei da sanidade. Agora quero provar do líquido da loucura. Beber caixas e caixas do licor desse amor que consome as minhas entranhas e queima meus ossos. Beber dele para que ele se esgote no mundo e se perca no umbral de toda a perdição. Quero esquecer tudo, mas sei que antes do esquecimento total será necessário a rememoração total de todas as luzes que piamente desejo apagar. Suma de minha vida, minha dor! Suma de meus sonhos e de meus pensamentos. Suma de minhas dissimulações. Suma dos meus nervos ensandecidos do suor noturno que ainda se embebeda pelas palavras outrora ditas agora perdidas. Suma! E quando gritei e recriminei tudo o que você havia feito contra mim, logo me lembrei que você não fez absolutamente nada. Tudo que foi feito foi eu quem o fiz. Foi eu quem foi lá e te ergueu de teus pesadelos vivos e te levei como um pássaro leva um graveto no bico para tua casa na esperança de construir um ninho. Foi eu quem me machuquei o tempo todo. Sempre soube que suas palavras têm a duração de um dia. Sempre soube que não devo confiar em um mísero ponto de exclamação que você emitir. Sua voz é névoa e se dissipa com a mudança do tempo. Suas promessas entrecortadas são sonhos líquidos que escorrem por entre os meus dedos. Aprendi que tudo o que você disser até então é para ser descartado por mim como algo verdadeiro, pois você não sabe o que diz, ou talvez saiba, mas isso seria perversão demais para se imaginar. Odeio você mas odeio muito mais a mim mesmo por não saber como me livrar de algo que sequer existe no mundo real. O fato é que sequer sei se existo no mundo real ou se sou apenas uma ilusão de mim mesmo. Um personagem criado para interpretar essa mente que lateja em busca de um lugar para morar. A vida não é um por exemplo, mas é dos exemplos que você vive. E a perda para mim é tão intensa e para você e só uma perda, e isso foi o meu sonho quem me disse. E me disse certo. Haverá um oceano dentro de mim, eu sei que haverá, e eu vou cruzá-lo até o fim de meus dias. Essas palavras para você são apenas um emaranhado de tentativas que não significaram nada, eu sei. No momento sinto uma vertigem e minha vontade é a de mergulhar nesse texto que escrevo e sumir do mundo. Mas isso não é solução para nada. Isso é apenas sono e cansaço. O menino maduro se despede agora e quem chega das trevas é o louco cansado de esperar por sua vez para agir com insanidade no mundo dos dissimulados seres humanos saudáveis. Odeio você.


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Um comentário:

Pedro. disse...

a vida é um "barato"


entendeu, Clarice Lispector?