terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Céu em chamas.

A noite dentro do gomo das mãos e as estrelas girando ao redor dos olhos, auréolas perniciosas. Estátua grega que seduz os miolos e faz a cabeça erguer-se além de sua possibilidade, fazendo gemer o sangue, fazendo o músculo quebrar como uma haste e a flor rubra cair sobre o chão em chamas. É o amor cujo nome verdadeiro é flecha, é o coração cujo nome verdadeiro é alvo, é o cúpido bastardo que engole vermes para satisfazer os amantes alucinados. Somos eu e você olhando o mundo e retraídos com uma vontade louca de esquecer sabe-se lá o que. Tua mão pega a minha e juntas formam um casal, saem as duas cavalgando o ar e aqui ficamos sem os nossos membros. O amor é uma idéia e não precisamos do físico para satisfazê-lo - não é isso que ele nos diz? Ele, o grande Deus do amor que a tudo ama e a tudo fere com suas patas invisíveis e suas mil línguas salgadas que roçam as nuvens e fazem do firmamento uma selva de fogo e de pedras. E agora vamos! Vamos caminhar até o limite! Até o horizonte! Até encontrarmos a parede boreal que bloqueia nossa passagem e lá morrermos como piratas que naufragam no oceano e são enterrados no mar junto aos seus tesouros. Somos criminosos inatos e nosso assassínio foi cometido há muito tempo, antes de nós. E o besouro verde voa como uma jóia belíssima ao nosso redor, e as moscas são pedras negras que levitam no ar e nos olham, nos denunciam, nos abandonam junto a nossa beleza para depois cairmos no poço do Narciso e lá ficar a deformar e admirar nossa própria perda.


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Um comentário:

alex.n disse...

"Nos dias de hoje
É bom que se proteja
Ofereça a face a quem quer que seja
...
Cai, o Rei de espadas
Cai, o Rei de ouros
Cai, o Rei de paus
Cai, não fica nada!"