segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Tardes Secas

O sol parafusado no centro do céu. Tão fixo. Tão inabalável. Com um aspecto de que nunca irá se mover. É como se essa tarde fosse durar para sempre. As horas passam dentro dos relógios, mas não no mundo. É como se elas estivessem presas no pico dos ponteiros. Tenho sede e respiro com dificuldade. Estou atravessando uma rua movimentada, muitos carros, muitas pessoas, e outras tantas sacolas vazias que flutuam sob as calçadas. Sinto que caminho sob um deserto e que tudo a minha volta são cactos. A vida é assim nessas tardes secas. A solidão esvazia o corpo de suas ilusões, e elas escorrem pelas frestas da pele, mescladas no suor da gente. A solidão também quebra a lente onírica dos olhos e de repente tudo que antes era a cidade, com suas pessoas e seus prédios, agora não passa de um vasto campo vazio. É a vista que se tem quando se olha ao redor através das lentes escuras do óculos da vida. É a solidão do corpo que me apavora. A solidão de estar sozinho dentro de mim mesmo. Não poder dividir os pulmões com nenhuma outra traqueia que não seja a minha. A voz dos pensamentos ecoa no vazio das grandes cavernas do peito. Atravesso a rua, chego noutro lado e ao virar numa esquina me deparo com o mundo espatifado no chão. Volto o olhar para as ruas e as pessoas surgem novamente, como que saídas de esconderijos, de tocas no asfalto quente. Continuo caminhando e transpasso outras ruas. Não sei bem para onde vou, mas continuo. Continuo o caminho nessas tardes secas, nessas tardes secas, nessas tardes secas. O sol parafusado no centro do céu.
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Um comentário:

alex.n disse...

O começo como o fim...!