domingo, 11 de janeiro de 2009

Sobre a complexidade do processo de criação

Há algo em mim que necessita ser compreendido antes mesmo de ser visto. Compreensão que necessita de texturas e para cada textura uma cor diferente. Camadas de propósitos definitivos mas não suficientemente polidos. A polidez é algo que procuro incessantemente em minha mente. Pobre a mente do homem, que tateia na escuridão elétrica a procura de uma concha resistente para habitar. Mas habitação é o que nos falta.

Sobre a criação de realidades alternativas, só tenho a dizer sobre como isso comporta um doloroso processo de fragmentação de idéias. Idéias essas que muitas vezes se apresentam em posturas inflexíveis. Esse é o verdadeiro mal das idéias, a inflexibilidade. Somos grávidos de idéias, "somos" no sentido de nunca sermos o inverso, não-grávidos. Estamos sempre dando à luz novos conceitos e horizontes, e a dificuldade de toda essa criação é o crescimento dela. Um sentimento paterno acerca de idéias nos invadem e somos inoculados pelo vírus do perfeccionismo homérico. Uma espécie de perfeccionismo que ostenta nada mais nada menos do que a perfeição coletiva de idéias. Não basta ter idéias, o que basta é agrupa-las no sentido certo, para que as idéias ganhem forma, corpo e uma vida autônoma.

Idéias são adeptas a eutánasia. E a morte de idéias é algo tão natural como a morte humana, chega como nada e se mostra no sentido que deve obter: A perfeição acerca delas. Morte de idéias em um sentido teísta é transforma-las em eternas. A morte de uma idéia não significa sua extinção, mas sim sua evolução na mais genuína concepção Darwinista. O que podemos obter é um material cada vez mais suscetível a polidez. Como uma lâmina que exige ser polida para cortar com mais facilidade - essa é a missão das idéias, cortarem com mais facilidade. A fragmentação de idéias é necessária , portanto, para estudos anatômicos e antropológicos sobre elas, porque antes mesmo da idéia ser idéia ela é a idéia de uma pessoa e idéias pessoais são como filhos, carregam em si toda uma complexa herança genética.

O que tenho a dizer é que há algo em mim que necessita de compreensão. Mas não uma compreensão de fatores extrínsecos, mas uma compreensão de fatores internos e fisiológicos. Esse algo em mim que necessita de compreensão se comporta agora como um órgão que recebe aversão dos outros órgãos. Não uma aversão de eudemonismos acerca da harmonia dos órgãos, mas uma aversão de ininteligíveis sentidos. O que necessito é ser aceito por mim mesmo e tal reconhecimento é tão ou mais doloroso do que qualquer outro reconhecimento. Tudo isso para obter o entendimento de que não há nada mais atroz do que a junção de idéias e o reconhecimento paterno sobre elas.

Devemos tomar cuidado acerca da posse de palavras. Elas sempre nos escapam. São como pássaros assustadiços que voam de nossas mãos. Palavras são solitárias, e a vida em comunidade não as apetecem. O exercício de amontoa-las é doloroso e exige o âmago da paciência, provocando uma dor de crucificação. Escrever é um ensaio sobre a morte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto Feliz e condundente.
Escrever sobre algo fisico, como uma cadeira, ontologicamente falando, eh facil. Escrever sobre algo social eh um pouco mais dificil. Entretanto, esmiucar o "eu" eh quase que uma tarefa homerica. A forma simples como o texto, felizmente, aborda esse tema de grande complexidade e fenomenal. E daquelas coisas que dizemos: "mas eu tb. sei disso." Assim como eu sei que eh a gravidade, scrictu sensu, que atrai as coisas para baixo." Mas poucos reduzem a termo essa tematica com exito. A coisa mais dificl de se compreender e escrver eh o que aparentemente esta harmonico e inerte no universo. Ouso em dizer que seria um grande desperdicio a mente que escreveu esse texto parar por aqui.
Parabens. Continue assim: por nos.