terça-feira, 15 de setembro de 2009

E como já dizia Galileu: Isso é que é amor!

O amor deve nos salvar da banalidade. Não é uma missão ou um dever como o "deve" sugere, muito menos um compromisso; é uma característica. O amor só poderá ser chamado de amor quando este nos retirar da banalidade da vida e da banalidade da morte. Não se trata de um escapismo, mas de uma nova compreensão. O amor é como novos olhos que usaremos para olhar o mundo e olhar a nós mesmos. E esse sentimento tão desgastado pela palavra é o único que comporta em si a qualidade divina de deslumbrar o infinito; o amor é o único que poderá saber exatamente quantas estrelas há no universo e quanto de nós mesmos há naqueles que amamos, pois é isso que se pode chamar de amar, porque amar não é descobrir algo novo no outro, mas sim reconhecer algo no outro que te faz lembrar e esquecer tão completamente de você mesmo. É um mecanismo simétrico: A alma abandona o corpo, esvazia-se pelos poros e flutua até o outro corpo. No outro corpo a alma do primeiro encontra a alma do segundo, essas almas trocam sutilezas no vazio incompreensível do invisível que nos cerca, e após a troca, as almas também se trocam e revezam entre si a morada dos corpos; há dias que sua alma mora em mim e há dias que minha alma mora em ti. E assim o amor vai nos retirando da fuligem do cotidiano, dos sorrisos bocejantes e da banalidade de todas as coisas, e nos faz encarar algo totalmente novo e completamente antigo; Faz ouvir dentro de nós o som de marés onde sequer há mar, faz tremer em nós a terra onde sequer há terra, faz haver lua e sol e estrelas onde sequer há espaço para tanto; o amor tem espaço para tudo. Ele é dono do tempo e não o contrário. E é esse amor que faz escorrer entre os dedos as horas que perdem seus torturantes significados, porque quando as horas são horas do amor, cada hora que passa é uma hora reencontrada. E assim calvagamos esse sentimento. E assim vivemos esse sentimento. Fora da banalidade, graças a Deus! Pois o amor que é banal e é comum não é amor, é carência. O amor que enxerga o tempo é um amor pobre de espírito. O amor que espera no silêncio é covardia. E o amor que não enxerga as constantes mutações da vida é preguiça. O verdadeiro amor é capaz de tantas transcêndencias quanto possível. Ah, como é rebuscado falar de algo tão surpreendente! Quantas palavras se perdem na busca pelo significado? Mas que diabos vamos fazer nós, os seres humanos? Que de ferramenta só temos a linguagem. Ferramenta que escava o mundo e as pessoas. Sem as palavras o mundo não é possível. O amor deve nos salvar da banalidade. Nada é banal, nada pode ser banal, nada tem que ser banal. Ora, a vida é tão desconcertante para nós que chega um momento que sabemos em nossos recursos íntimos que a única forma de significar no mundo a nossa existência é estendendo ela até a existência mais próxima; próxima não de distância, mas de significância. Caros amigos, não queiramos alguém para tampar nossos buracos existenciais, mas sim queiramos alguém para criar dentro de nós novos espaços: espaços tão cheios de vida que engolirão os buracos e transformarão nossa entidade interna em um grito eterno de juventude e transcêndencia. Alguém que nos faça sentir a vida e que cure a ferida do nascimento - o momento em que perdemos pela primeira vez - alguém que cumpra em nós um itinerário eterno, alguém que percorra nossos corredores e nossos vãos, alguém que descubra no silêncio antigo de nossos âmagos a resposta para a própria vida. Caros amigos, queiramos alguém para amar e amar, queiramos alguém para superar a tão delicada tristeza que é estar vivo. Queiramos alguém para compartilhar o metálico fardo da existência e fazer do peso algo tão suportável como o ar que suportamos sobre os nossos ombros. Ah, caro amigo, como explicar? Como explicar que nós nascemos amargos e então vivemos em busca de nos adoçar?



"Enfim, lancei
de mim um grito
em ti, fui um
com o infinito

No ápice,
em átimos
que pareceram séculos
eu me banhei
e me lavei
em sexo e luz."


Um comentário:

tiago joaquim. disse...

pior é quando adoçamo-nos com adoçantes daqueles mais diet possível, que proporciona um doce enjoativo e com falsa sensação de ser doce, na verdade, o que sobra é o gosto amargo na boca.

busquemos o mais puro.
busquemos o "mais kavo".
#trocadilhos em alta