quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Belo Sorriso De Karenin

Não ame somente pela beleza, amar somente por ela é um engano. Não porque ela irá acabar, como certamente um dia irá, mas sim porque ela por si só não sustenta as relações humanas. Gostamos daquilo que é belo, mas gostamos mais daquilo que faz arder o coração. A beleza externa é um magnetismo. Ela atrai. Ela é como uma lâmpada acesa que captura para si os insetos e as vontades. O fato é que, aquilo que é belo é precioso até o momento que nos cansamos e que descobrimos que aquilo é somente belo e nada mais. Nós somos arqueólogos inatos, estaremos sempre escavando as pessoas, querendo descobrir as antigas civilizações que elas guardam, os antigos artefatos, as antigas e eternas belezas do mistério dos sentimentos humanos. São nessas escavações que aquilo que é belo é posto à prova. A verdade é que se a beleza nos bastasse viveríamos das artes, de todas elas. Mas não é. Não basta. Queremos algo mais. Queremos amar humanos, e não deuses idealizados em nossas cabeças. Idealizamos tanto, criamos as pessoas dentro de nós e praticamente nos esquecemos que elas existem de verdade. Somos acostumados com os sonhos e com aquilo que não se vê, com a sedução do invisível, com as idéias platônicas, porque aquilo que se vê é perturbador porque está vivo e é por excelência um ser autônomo, que está fora de nossas mãos, de nossas mentes. E o que assusta e causa horror é que tudo que é vivo não comporta cálculo, tudo que é vivo é indecifrável. Queremos decifrar. Queremos ver através dos olhos daqueles que amamos, olhar pelo buraco da fechadura, descobrir o que é que há dentro daquela esfinge que se posta diante de nós com o mistério. Aquilo que é misterioso é belo, mas todo mistério também cansa. Mas o belo quando provoca pequenas epifanias, quando faz o coração explodir e quando faz nascer dentro de nós uma pulsão que destinará nossos membros a percorrerem grandes distâncias para alcançar aquilo que acaba de nos ferir - ferir com a beleza que transcende a aparência - não pode ser mais considerado somente belo, mas sim grandioso o suficiente para fazer da vida algo mais brilhante que o próprio sol, motor da vida. Ou seja, quando a vida transcende e vai muito além daquilo que inicialmente proporcionou seu surgimento, a vida não é mais vida, mas é algo que a linguagem humana ainda não conseguirá descrever. Não ame pela beleza, mas sim por aquilo que da beleza emana. Quanto mais conhecemos certas pessoas mais amamos elas. Porque quando penetramos o íntimo, o secreto, o âmago definitivo do ser amado nós descobrimos que dentro do ser amado habita também um universo.


- It's wonderful!

- Where?

- Inside you.

- Why?

- Because it's full of stars.


.

Um comentário:

alex.n disse...

"porque aquilo que se vê é perturbador"