sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Triste Sorriso De Karenin

Um pequeno mundo em minhas mãos e eu faço dele o que quero fazer. E antes era minha vida que estava fora de mim, em algum lugar, perdida na aurora que nunca prosseguia. É triste dizer que tudo acabou, que não há como continuar por essa estrada e que há uma muralha que impede a passagem mesmo que se queira atravessar. Há algo em nós que nunca nos trai, que está sempre lá para avisar que há limites em tudo. É um alarme sutil, que soa e avisa que certas coisas na vida não podem ser como nossa imaginação quer; mas que outras coisas serão exatamente como nossa imaginação quer. A culpa - esse sentimento corrosivo - não pode mais ocupar nossas mentes. Essa herança histórica que a nós destrói fácil. Muitas vezes podemos ser mais fortes do que nossos sentimentos, e muitas vezes nossos sentimentos são enganos ou são esconderijos que guardam segredos maiores e mais insuportáveis. Mas como explicar? Como explicar que a coisa mais bela no mundo é aquilo que se ama e aquilo que se ama é aquilo que mais dói? Nossas ações não foram em vão; Não. Nossa vida entrelaçada uma na outra foi algo de sublime que o tempo não pode apagar. Será como uma obra de arte que estará sempre além e aquém do entendimento comum. É isso, somos nós, somos nós observando o infinito. Somos nós conservando a beleza do momento que durará para sempre dentro de nossos olhos. É triste dizer que tudo acabou, mas é necessário dizer; É necessário retirar do oculto aquilo que nos faz sofrer e colocar luz nesse estranho: revelar sua face para descobrir que aquilo que mais nos assombrou é na verdade aquilo que irá nos salvar. É assim: As verdades são fantasmas que rondam nossas memórias até ganharem corpo. É preciso retirar o horror da perda e olhar para a lacuna que foi deixada não como um vazio, mas como uma bela vida à deux que sempre conservará a beleza daquilo que fomos e que sempre seremos. É preciso conservar no coração esse calor que sentimos para que isso seja a prova final daquilo que somos; daquilo que é. A beleza da vida consiste nas mudanças e o melhor sempre estará no campo do devir. Sabemos que as palavras não podem aplacar a tristeza que há em nossos olhos, pois aquilo que um humano sente não pode ser expresso através da linguagem, só interpretado. Mas é preciso saber que estamos cá dentro de nós a sós com nós mesmos e que há uma solidão que sempre existirá mesmo quando estivermos dentro de uma multidão de bons amigos e boas intenções; É preciso reconhecer o humano que há em nós e perceber que tudo aquilo que é humano jamais poderá ser estranho ou vulgar, triste ou feliz, perverso ou angelical, mas apenas humano. A verdade é que existem varias verdades, e que nós possuímos braços longos para justamente abraçar essas verdades: abraçar a vida, o mundo, as oportunidades, as mudanças, as perdas e os ganhos que compõem a nossa subjetividade. Nunca seremos melhores nem piores, seremos sempre diferentes. Falo por mim e por você, falo por agora, pois o restante que nos aguarda é incompreensível desde já. A mudança causa horror e tristeza, mas a mudança é algo de belo que os deuses deixaram para nós: para o nosso deleite e terror. Olhar para a vida e perceber que ela é antes de tudo tão nossa por excelência faz tudo ganhar um brilho e um sentido maior. Só quero dizer que expressar motivos é desnecessário, não existem motivos, o que existe é a mudança crua e pálida diante de nós, e o que precisamos fazer é cozer e lapidar essa pedra tão dura que está em nosso caminho. Somos felizes porque podemos mudar e se não pudéssemos daríamos um jeito de inventar uma máquina divina que provocasse todas as mudanças necessárias. Estávamos no escuro e agora estamos na luz, porque somos filhos do sol. Sempre amarei aquilo que fomos e aquilo que somos. Sempre amarei, antes de tudo, aquilo que é; Pois o presente é perpétuo, e nós nunca temos descanso.

A falling star fell from your heart and landed in my eyes


.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Sempre amarei aquilo que fomos e aquilo que somos."