quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Winter Session

O inverno chega dentro de mim. O frio intenso, a neve que bloqueia as passagens e faz os sentimentos se aglutinarem e formarem um canhão, pronto a ser disparado em direção ao mistério das direções. O peito se afoga dentro dele mesmo, no lago da secreta e indecifrável solidão humana. Eu sei, a vida é perturbadora quando questionada de frente. A verdade da vida escandaliza os homens e esses com a moral danificada correm até os penhascos e ensaiam a morte durante séculos. Querem ser donos da própria hora. Quando descrevo o frio visceral que assola os pulmões de meu corpo também descrevo a universalidade das agitações humanas. Somos tão iguais nessas noites, percorremos o obscuro olhar das estrelas e nos deparamos com nossas palavras que são mistérios, lendas e astros. E quando olho para o céu noturno completamente salpicada do brilho que me é por excelência distante, me deparo também com minha pequenez e meu grito é mudo nessas veredas. Mas é na distância de mim mesmo que me encontro melhor e me conheço de forma completa. É um mergulho dentro das águas encefálicas do espírito e é também uma rebelião contra os sentidos, que são tão verdadeiros e práticos que nós, complexos por herança, confundimos os sentidos dos sentidos. O olhar de um humano é também o olhar de uma multidão. A pergunta de um humano é também a pergunta de milhões. E a vida que é absurda e é uma pequena luz entre duas escuridões se agita como um animal feroz e se rebela contra nós. Mas talvez somos nós quem não sabemos como lhe dar com ela. E o inverno é também uma necessidade. Precisamos sentir o frio para conhecer os prazeres dele e também reconhecer os prazeres de outrora, das antigas estações, dos dias que um dia foram e não são mais. No mundo tudo que é, é somente uma vez. É na ausência de um elemento que lhe damos mais valor, porque quando ele está por perto é como parte da paisagem e por isso também banal, mas quando ele é retirado se torna precioso porque perdido. O paraíso . Nós sabemos em nosso secreto pulsar de pensamentos que os valores mais preciosos estão nas coisas que já se foram. Talvez porque precisemos de muito aprendizado para separar os elementos. Retirar o véu banal das entidades e revelar o brilho singular que cada uma tem. É preciso aprender a viver no inverno e é preciso aprender a amar e abraçar a nós mesmos como se amassemos e abraçassemos algum outro; porque é na alteridade que encontramos o próprio valor da vida. Precisamos ser outros para então sermos nós mesmos. Precisamos dos Invernos para então reconhecer o valor da pele e dos músculos. O valor de nós mesmos, que trememos em busca de recordar a baforada morna da boca do sol. Em busca de recordar o espanto que é acordar e se descobrir vivo, mais uma vez. Repetir a saída do útero e o encontro com o mundo por vezes indeterminadas.




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