quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Candy Lies²

Te esperei por todo o verão e apenas retornaram as corujas. Através das frestas de meu corpo eu tentei observar teu retorno, mas você era sempre o horizonte, longe como uma gaivota. Me perdi novamente dentro de mim e agora estou nadando entre essas gloriosas mentiras. Como eu preciso de sua língua perfurando o meu esqueleto, como eu preciso de seus dedos chicoteando a minha pele. Sou a nascente do rio e essas águas turvas escorrem de meu corpo, ando excitado como a lua. O vento sopra e eu penso serem seus múltiplos vultos. Sua serpente ainda mora em meu jardim e eu a cuido cada mísera noite. Entrego a ela aqueles pequenos mortos que você deixou em seu caminho e ela os devora como um dragão. Você dizia que meu corpo era como um leite e agora, aqui onde estou, parado diante do céu e suas terríveis distâncias, sinto que meu corpo não passa de um lodo escorrendo por esse chão pedregoso. Me deitei dentro de uma flor e sua abelha roubou-me o néctar, sou vazio agora, como um exoesqueleto deixado na superfície de uma árvore seca. Mas carrego a caixa de Pandora por onde vou e dentro dela brilha aquela antiga maldição: a esperança. Me volto todas as noites em direção a estrela que denuncia seu paradeiro, olho para ela e lambo suas pontas salgadas. Minha língua se estende até a constelação mais próxima e molho o deserto do universo com minha saliva de Medusa. Te espero em algum lugar no céu, em alguma dimensão paralela ao seu corpo.


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Um comentário:

Pedro. disse...

o primeiro amor é o amor próprio!