terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fragmento retirado de um dia morto.

É o vazio. É o vazio inerente à vida que me despedaça. Essa inanição pulsando no peito como se fosse algo. Pretendendo ser algo. Mas não é nada. É o nada. É o vazio. As horas, os dias, as vozes - tudo soa oco. Oco como a realidade. Retiro do bolso um rolo de papel e anoto: "Quanto mais se tem, mais se quer. Quanto mais se descobre, menos se compreende. Quanto maior é a dose de sabedoria, maior também é a dose de ignorância. O frasco da lucidez é o frasco da loucura. O homem sábio é um homem duplamente tolo. Sua duplicidade consiste na inverossimilhança do mundo. Quanto maior é o seu passo em direção ao objeto, maior é o passo do objeto em seu recuo. Algumas vezes quando pensa ter alcançado o objeto, o objeto então se desfaz na sua frente como um punhado de pó levado pelo vento. O homem se olha em algum reflexo e se descobre uma espécie de bobo da corte. O objeto não se permite conhecer. Descobre que o objeto jogou com ele o tempo todo e que o mundo não passa de um tabuleiro sordidamente ordenado rumo à derrota dos homens." É o vazio da vida que me despedaça.


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