quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Somewhere in hell, he types still.

Um vasto. Um incrivelmente vasto e longínquo deserto - eis o futuro diante de mim. Minhas pinceladas alcançam pequenas distâncias e o restante permanece pálido, pálido e cru. A noite tomba das alturas e eu me vejo cada vez mais engendrado nessa discórdia. Vou seguindo, em sonhos ou acordado, vou seguindo e dizendo não à coisas que me parecem absurdamente incoerentes. É como se já me bastasse a própria vida e sua incongruência intrínseca e de resto eu não suportasse mais a tamanha desunião de tudo. É vasto. É incrivelmente vasto essa lacuna no peito da noite. Tento andar sobre a água. Tento curar cegos. Tento ressuscitar os mortos, mas tudo que obtenho são lembranças, são névoas. E a fumaça do cigarro forma formas diante de mim e diante dessas formas eu vejo os rostos, os rostos que amei. É quando me detenho e fechos os olhos, abro-os novamente, olho novamente e fixamente para as formas. Soltas no ar, como balões coloridos. Vejo uma criança suja sair de repente de dentro do meu estômago e correr em direção às formas. As formas se perdem, somem no ar ao toque da criança, somem para sempre. A criança se volta e me olha com uma face chorosa, anda cabisbaixa para frente e depois corre em direção ao meu abraço aberto e se espatifa em sombras sobre o meu peito. E então vem a vertigem novamente. Vem cavalgando os deuses e se volta contra mim com seu exército de pequenas verdades. Armaduras de aço. Lanças e escudos. Estão todas preparadas para o fim do mundo. Mas eu permaneço imóvel. Fixo como um céu. Sequer pisco os olhos, sequer respiro. Só faço olhar fixamente para as formas. Só faço frustrar meu peito com a vasta verdade das coisas. A vasta verdade de que a realidade é impetuosa e nossa mente uma farsante. E lá do fundo, no lugar íntimo, que brotam as sementes que crescem em um passe de mágica. Crescem e ganham a realidade. Tomam para si formas e mais uma vez caiem no chão podres e mortas. A realidade é uma árvore que não dá frutos, e os nossos frutos já nascem maduros demais para a umbrosa realidade. Eis o futuro diante de mim e sobre ele eu ouso caminhar. caminho em busca do tempo, da vida, do útero.


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Um comentário:

tiago joaquim. disse...

não faça a linha Jesus.
o máximo que você vai conseguir é pegar a Madonna, e isso não é muito legal.