sábado, 20 de fevereiro de 2010

Baudelaire e uma noite de sábado.


Dá um tempo, ó minha dor, controla tua agressividade.
Tu querias a noite; Aí está; ela vem descendo;
Uma atmosfera sombria já envolve quase toda a cidade,
Uns encontram a paz; outros seguem padecendo.
Enquanto dos mortais a multidão vil,
Sob o chicote do prazer, esse impiedoso carrasco,
Vai colhendo remorsos na festa servil,
Minha dor, me dá a mão, vamos por aqui, sem asco,
Ver, longe deles, debruçaram-se os anos defuntos,
Sobre os balcões do céu, usando velhos conjuntos;
Emergir a saudade, do fundo das águas, sorridente;
O sol moribundo adormecer atrás da arcada mansa,
E, como uma longa mortalha arrastando-se no Oriente,
Ouve, minha cara, ouve a doce noite que avança.


Charles Baudelaire, In Flores do Mal.

2 comentários:

Pedro. disse...

você planta as sementes e eu chego para regá-las dias depois.

=]

Pedro. disse...

amo-te!

aquele filósofo, socrático, de contemplação do ser. da experiência humana.

=]