domingo, 9 de maio de 2010

Fantasma

Tenho medo desta coisa escura
Que dorme em mim;
O dia todo sinto seu roçar suave e macio, sua maldade.
Sylvia Plath.

Alguma coisa escura
Gira em torno de mim.
Às vezes ela avança
Pousa em meus ombros
Sussurra ao pé do ouvido
Palavras de capetinha.

No outro, nenhum anjo
Para me aconselhar melhor.
Nenhum deus flutua
Em sua nuvem ao meu redor.

Estou só com essa flecha
Noturna, calibrada em seu
Arco de espuma contra
A cabeça, contra os miolos.

Espatifa-se o meu corpo
Inteiro. Tomba ao chão
Os meus cascos. Quem
Coletará? Quem ousará
Colar meus ossos novamente?

Tudo que respira
No mundo tem me
Causado dor.

Um cachorro também
É mãe. Com suas tetas
Encharcadas de leite
Até a raiz.

Formigas decifram os
Mesmos caminhos que
Meus passos percorrem.
Quem dirá? Quem dirá
Que existe um pai nas
Alturas esperando por nós?

Noé está morto e sua
Arca naufragou. Ninguém
Se salvará. O povo
Escolhido é o mundo inteiro.

Escolhidos pelo dedo
Em riste desta coisa
Escura que gira em
Torno de mim.

Às vezes ela avança,
Pousa em meus ombros,
Sussurra ao pé do ouvido
Palavras de capetinha.

No outro, nenhum anjo
para me aconselhar melhor.

Nenhuma estrela está
Imune de seus espinhos
Fulgurantes que espetam
No auge do dia.

Galileu está cego. Ousou
Fitar o sol, que como a morte
e como a Górgona, petrifica.

Alguma coisa escura
Gira em torno de mim.

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