quinta-feira, 6 de maio de 2010

Revolta

"Toda arte é uma revolta contra o destino do homem."
André Malraux.




Piscina pra que?
Tomo banho de chuva!


Mansões são mausoléus,
Habitantes, espantalhos tonsurados,
As cabeças, ninhadas de corvos.


Paredes auríferas?
Ouro puro? Diamantes
Ao chão feito formigas azuis?
Não quero.

Nem tudo que reluz é vida.

Mineralizar o corpo outra vez?
Se a madama sempre tomba de suas jóias
E se o anzol nunca pesca peixe de prata?
Desnecessário.

Tudo é tão vivo e rutilante
Que tua vitricidade constrange
O obscuro caráter do mundo.

O cheiro queimado de tuas nádegas
Derretendo pingos de plástico sob
O colo das prostitutas
Leva ao vômito toda mosca varejeira
Que passa e escuta: esse rumor
De ossos.

Sua boca,
Bueiro de cristais.
Suas orelhas,
âmbar selvagem.


Sua máquina de calcular não teme
A queima de estoque da morte?
Sua tela de luz plasmática não morde-te,
Mastiga-te,
Engole-te e
Regurtita-te?

Você, lixo industrial
Sem direito à reciclagem,
Forma tóxica sem a ductibilidade
Da geometria.

É insuportável ser pedra.

Com a lua eternamente imersa
Nos cabelos do sol.


.

2 comentários:

Pedro. disse...

o escrito parece um órgao vivo, um orgão vivo pulsando de tão real.

eu sempre, eu sempre digo: da tua fala escorre o mel.

"Tudo é tão vivo e rutilante
que tua vitricidade constrange
o obscuro caráter do mundo."

que seja feita a vossa vontade, primo, assim na terra como no céu.

alex.n disse...

amem!